02/05/2015

Crônica

A morte de uma heroína


Lá veio a gorda. Uma gorda de rosto bonito, mas desdenhada pelos homens envolta. Lá está ela de short e 
blusa acima do umbigo. Como é gorda.
Estava no mercado, para ser mais exato no corredor das frutas. E lá veio a gorda, esbanjando saúde e gordura. Que desfilava pelo corredor sem medo de ser feliz, balançava seus pneuzinhos e exibia seus seios. Aqueles seios que você não sabe onde termina a barriga e começa os seios, mas ela estava nem ai, apenas desfilava. Passou pelas cenouras com o nariz empinado, nunca olhando para o chão, sempre para frente. Mas que confiança da gorda, que autoestima. 
Todos começaram a olhar para gorda,sua confiança chamava mais a atenção do que seu tamanho e seu traje. Algumas magrelas segurando o alface trocavam comentários.

- Parece que não se enxerga
E a cara de nojo nas magrelas, chegou até murchar as alfaces. Mas a gorda, que gorda, senhores, continua a desfilar e ainda com sorriso malicio encarou com estrema confiança as duas magrelas com alface nas mãos.
É a vitoria das gordas, eu aqui vendo se os ovos não estão quebrados, vendo se estão bons para levar para casa e ainda vejo a vitoria da gorda. Que gorda. 
Após presenciar tal desfile pego o meu carrinho e respiro fundo. Se aquela gorda pode eu também posso. Então desfilo pelo mercado. Não será a minha pequena barriga, meu cabelo mau cortado, minha cara amassa que irá me abalar. 
Que aula deu aquela gorda. Que gorda.Estou com a confiança a mil, nada pode me abalar. Quero encontrar aquela gorda e abraça-la e agradecer muito ela vou até entrar no corredor dos doces e comer, apenas 
comer, ser feliz, sem me importar...
Mas olha quem eu vejo. Não pode ser. É a gorda, a minha gorda, ajoelhadas na ultima prateleira, quase chorando, se humilhando. Não, não pode ser. Está lá. A gorda, acabada, destruída, descabelada e de 
cabeça baixa. Cadê aquela confiança? Cadê? E vejo lá naquela prateleira vazia, sem uma misera barra de 
chocolate, o sofrimento da gorda, a derrota da gorda.
No mesmo dia da vitória vem a derrota. E com isso eu aprendi que todos os heróis são derrotados em algum momento. Mas ver aquela gorda ali, a minha gorda, foi a derrota do seu maior fã. O fã de 15 minutos.


© Amoleitura & Realtche  - Todos os direitos reservados. É Proibido qualquer tipo de reprodução do texto, na integra ou em parte sem autorização. Texto protegida pela Lei do Direito Autoral Nº 9.610 de 19/02/1998

Nenhum comentário:

Postar um comentário