Crônicas

Coroa de espinhos

Hoje eu tenho uma história que vai muito além da vida e da morte. É a da pequena Chole. Ela deixou de ser criança quando seus pais deixaram de ama-la. Amor era algo raro. Se você é menor de idade ou ainda sonha é melhor não continuar lendo essa história. Pois ela trocou a sua vida por uma coroa de espinhos. Sim, aquela igualzinha a de Cristo. Chole não queria ser salva dos pecados, não queria morrer pela humanidade. Mas afinal qual é o pecado em querer ser amada? Ela sonhou em ter uma família, um bom emprego e um pouco de gloria. Mas aquela coroa era tudo o que a mantinha viva. Ela escolheu sentir dor, já que o amor era mais doloroso que uma coroa de espinhos. Ela esperava o dia para ser crucificada por acreditar no amor. Mas na verdade ela largou. Ela não é mais criança. Ela nasceu no mesmo hospital da descrença e da mentira. A vida não teve gloria, nem o emprego e muito menos a família. Ela viveu durante muito tempo na rua. Sobreviveu do lixo. E por que não achar o amor no lixo? Mas cada vez que ela sentia a fisgada daquela coroa ela esquecia o que era amor. Ela não era mais criança. A chuva não é algo bom, o frio não é algo bom, o calor não é algo bom e algo bom não é bom. Aquela coroa de espinhos a lembrava disso. O real motivo da coroa era sentir dor. Era a única coisa real que ela sentia. Era o que a mantinha vida. Ela se sentava todos os dias em um banco de mentiras, onde ouvia diálogos de mentiras. E a única coisa que a fazia melhor era focar naquela dor. Ela tentou matar todas as lembranças, mas se lembrava de tudo como o trovão se lembrava da chuva. Então do que foi essa longa vida sem bons amigos. Todos os que elas a conhecia foram antes do final. E ela como sempre continuou carregando aquela coroa de espinhos, suportando toda aquela dor. Ela sabia que sempre iria estar para baixo, ela sempre sabia que sentiria dor, ela sempre saberia que enquanto vestisse aquela coroa o frio da morte nunca tocaria a sua pele e no final ela seria Cristo. Ela estava bem aqui. 

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